Educadores

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segunda-feira, 11 de julho de 2011

A Arte da Aprendizagem: quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender

“Educar é uma arte e como tal, não é algo que se aprende em livros, nem na escola, mas praticando, sentindo, vivendo.”

Anísio Teixeira



            Sobre a arte da Aprendizagem fundamental é levar nosso olhar para os caminhos da subjetividade humana, pois aprendizagem é uma relação que estabelece elos de ligação entre quem exerce o papel de ensinante e quem vivencia o papel de aprendente.

            Como tema essencial e gerador de novos horizontes necessitamos, sempre, continuar a busca para compreender, com cada vez mais clareza, os processos da arte da Aprendizagem.

            Nossas auto-referências e autonomias de pensar e a circularidade de diferentes conceitos nos demonstram que nossas potencialidades são infinitas e, neste sentido, lançar novas idéias, provisórias e em movimento, deve dar continuidade a nosso permanente pensar e refletir sobre o que é aprender, para todos nós enquanto sujeitos viventes.

            Acredito que ressignificar nossos campos de sentido enquanto seres aprendentes e ensinantes e buscar vincular este processo aos estudos sobre nossas distintas práticas, enquanto profissionais e humanos, é concreta possibilidade de encontro e/ou reencontro com nossos próprios significados e sentidos.

            A reflexão e o olhar atento nos levam à reconstituição do vivido e geram múltiplas possibilidades de revermos nossas próprias identidades enquanto sujeitos e nossas vinculações sistêmicas com os outros, que só podem ocorrer na prática da interatividade, conjunto de relações simultâneas onde realidade, vontade, poder e desejo se mesclam e re-criam a organização de nossos pensares, de nossos sentimentos.

            A arte da Aprendizagem pode refazer um percurso da motivadora experiência humana do próprio viver: em nossa histórica trajetória, desde os primórdios, é no aprender e na arte que concentramos nossos esforços maiores para a sobrevivência e esta é a maior herança que carregamos: a herança cultural de toda a humanidade.

            Elementos essenciais para compreendermos isso não nos faltam: hoje a urgência de encontrarmos outros modelos para nossas condutas e ações está presente na necessidade da construção de uma nova Ética, de um novo Humanismo e, principalmente, na possibilidade de, enquanto seres que vivem em comunhão, resgatarmos valores de afabilidade, mansidão e doçura nas relações que estabelecemos com o mundo, com os outros, com a Vida em si mesma.

            A perspectiva criada a partir de nossas vivências deve estar voltada para a redescoberta, para a criação e recriação, para a construção, permanente, de outros caminhos para conviver com amorosidade nos espaços do sentir, do fazer, do estar junto com o outro, em processos de aprendizagem. Em nossas interações que reside a melhoria das condições próprias ao aprender, desde que a compreensão para as distintas particularidades que nos fazem humanos seja tarefa consciente e exercício contínuo.

            Paulo Freire, mestre essencial neste sentido, nos ensina que quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Existe beleza e arte maior do que esta? Saber que neste processo conhecer é conhecer-se e reconhecer-se, na parceria ad infinitum com os outros?

            A constituição de nossas autorias de pensamento, em nossas aprendizagens cotidianas, deve estar pautada no necessário e fundamental desejo do construir vínculos positivos entre o ser que aprende, o ser que ensina e os múltiplos processos de cognição emergentes deste encontro.

            A criatividade, a busca por novas visões à construção de nossas subjetividades enquanto seres que aprende, nos condicionam ao desafio de configurar e reconfigurar nossas competências e habilidades para interação com a humana diversidade que convivemos cotidianamente e com as infinitas tensões que caracterizam nossa contemporaneidade.

            Isto me faz continuar a afirmar que fundamental é a proposta de perceber a aprendizagem como essencial, como campo de infinitas possibilidades de construção de novas formas de pensar e de novas maneiras de perceber e sentir, de cuidar de cada um de nós, sem esquecermos que somos seres humanos porque somos seres aprendentes.

            Aprender e ensinar são processos vitais: é busca constante, é conquista, encantamento, é o que nos mantém vivos, jovens, crianças. É o universo da relação entre a magia da vida e a vida de cada sujeito, é o espaço tempo da elaboração.

            O desafio é o de aprender, a partir das tantas informações disponíveis nesta sociedade do conhecimento, a lançar novos olhares às perspectivas do nosso século XXI, que tornam o mundo cada vez mais interdependente, inter-relacionado.

            E o resgate que a Arte pode permitir é o de ter a função de formação de subjetividades dotadas de competências solidárias, de sensibilidade, de responsabilidade, onde a interação seja permanente busca de sentido para nossas existências. Para tal resgate, a perene necessidade de continuarmos a aprender faz com que tenhamos a alegria de sermos eternos aprendizes, embasando a metodologia de aprendizagem na proposição da UNESCO com os quatro pilares para a Educação do Século XXI: o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos, e o aprender a ser.

            Reflexões sobre a necessidade de criar novos sentidos e significados para o estarmos juntos fazendo Educação, rompendo com práticas cristalizadas, é essencial na práxis do educador, enfim, dos que atuam numa perspectiva vygotskiana.

            Para Vygotsky, a aprendizagem é um processo profundamente social e, por isso, o desafio é o de contextualizar saberes, conhecimentos, informações, é reinterpretar o que se vive e o que vê; é registrar o processo vivenciado, é apropriar-se da experiência, é saber que há poder, força, na arte de transformar, na arte do empoderar-se. Refletir sobre a necessidade de revermos estes nossos movimentos e exercícios, de avaliarmos e reavaliarmos a capacidade que todos nós temos de, uns com os outros, aprendermos a conhecer a partir da investigação e da descoberta, é elemento chave para gerar a alegria de ser um eterno aprendiz.

            Isto porque ensinar e aprender são uma necessidade humana e aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser e aprender a amar só é possível em comunhão. E estar em comunhão é impulsionar-se e pautar-se pela “procura de possíveis saídas às nossas inteligências ainda aprisionadas, nos desafiando aos processos de mudança permanente, produtiva, continuada e em harmonia com nossa essência humana”.

            E o desejo é esse: da mediação ao desejo, do desejo à mediação, em processo permanente, onde nossas capacidades, infinitas que são, nos levem à construção de um sonho: não negligenciar as oportunidades de aprendizagem e saber que desejar é ousar. O gênio existe, adormecido, em cada um de nós: despertá-lo também é nossa tarefa e ousadia.

Um comentário:

  1. Ensinar é uma arte ,porém, aprender com outro é mais importante ainda. Quantas vezes aprendemos coisas diferentes com nossos aluno?
    O bom educador tem a arte de escutar,aprender e repassar o que escutou com humildade e alegria.
    Acredito também, que aquele que ama o que faz tem bons resultados a todos os instantes.
    Saiba amar as pequenas coisas e verá a glória de Deus.
    Renata

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